Quarta-feira, 18/5 – dicção (lexis)
14h as 18h Discussão sobre conceitos de fala e voz. Discussão sobre a escuta, improvisações de fala, falar como um outro ecológico. O que seria uma democracia ecológica?
No dia 18 de maio de 2022, na cidade de Curitiba, no Auditório Glauco Flores de Sá Brito, 25 personagens se encontraram para receber a agência dos objetos, segundos corpos em cena, livres para criar a partir deles.

Manual para a construção de uma peça de teatro
3 # Dicção e o Léxico
Da “criação” segundo os meios, o objeto e modo de “imitação”.
Aristóteles ao analisar os modos de execução dos gêneros literários fala sobre a dicção que significa “saber como se exprime uma ordem, uma súplica, uma narrativa, uma ameaça, uma interrogação, uma resposta” (Poética, Cap. XIX – 7). Em Platão a dicção é definida a partir da escolha entre os discursos direto e indireto, entre narrativa ou imitação.
As partes da dicção ou elocução, em Aristóteles, são as letras, sílabas, conjunção, nome, verbo, artigo, flexão, expressão. Partindo de Aristóteles, mas interpretando contemporaneamente suas ideias entendemos que as letras são sons indivisíveis, mas que já produzem sentidos ao se relacionam com outras letras, criando assim novas significações. Por sua vez suas significações agenciam o movimentos das bocas, da respiração e da potência corporal investida pelo corpo para dizê-las. Isso faz com essas palavras, letras e sons se dissipem pelo ar de diversos modos produzindo sensações afetivas que podem de raiva, indiferença ou de amor.
O que é um léxico amoroso? Que tipo de léxico pode agenciar sons, movimentos e imagens amorosas? Quais são os léxicos capazes de interromper o sistema atual de opressão, dor e injustiças sociais?
Como criar uma dialética amorosa que considere a responsividade e atenção amorosa para com os outros? Como inventar uma nova dialética que seja a da escuta e do olhar para a realidade material, que saia do discurso para alcançar a realidade e a singularidade de cada vivência?
“As pessoas que falam sobre revolução e luta de classes sem se referir explicitamente a vida cotidiana, sem entender o que há de subversivo no amor e o que há de positivo na recusa de constrangimentos – essas pessoas têm um cadáver na boca.” — Raoul Vaneigem, A Revolução da Vida Cotidiana.
MODOS DE TRABALHO
Materialidade – A agência das coisas
O novo materialismo propõe, como aponta Jane Bennet, um novo modo de pensar a respeito da natureza, da ética e do afeto e suas relações com a materialidade das coisas, pensar sobre a participação ativa das coisas materiais que cercam os humanos e como essas coisas (árvores, lixo, eletricidade, células tronco, metais, etc) participam ativamente para moldar o mundo e os seres-humanos. O que significa que essas coisas agenciam as ações, comportamentos e acontecimentos, porque essas coisas atravessam .os copos humanos e não humanos. Jane Bennet sugere que o reconhecimento das agência das coisas pode contribuir como modos de mais ecológicos e com uma política menos determinada a culpar e condenar indivíduos, pois a partir do entendimento da agencia é possível compreender as urdiduras e forças que afetam as situações e os acontecimentos. Jane Bennet, Vibrant Matter – A Political Ecology of Things, 2010.
Quando falamos na agência das coisas não queremos dizer que os não-humanos tem uma intenção ou realizam uma ação deliberada, queremos dizer que a agência não-humana é caracterizada pela qualidade de modificar, auxiliar e mediar ações em outros seres sem que as ações desses atores sejam mediadas por uma consciência total.
O pensamento do Novo Materialismo compreende que os não-humanos, (objetos e materiais) possuem uma potência que afeta e atravessa o mundo dos humanos, por isso possuem agência.
A agência pode ser relacionada ao pensamento, filosofias e doutrinas Animistas, ou seja, na crença de que existe uma alma humana em todas as coisas, uma alma que origina e sustenta todas as atividades orgânicas como a percepção, sentimentos e pensamentos.
Paralelamente ao animismo podemos nos referir aos pensamentos ameríndios por meio do conceito do Perspectivismo, cunhado por de Eduardo Viveiros de Castro e Tânia Stolze Lima, que aborda a natureza relacional dos seres e da composição do mundo, onde humanos e não-humanos são providos de alma e são percebidos por outros seres na forma de animais, espíritos ou modalidades de não humanos. Humanidade que que se estende para todas as coisas do mundo e só se torna visível para quem compartilha um mesmo tipo de corpo ou para aqueles como os xamãs, que podem assumir a perspectiva de outros corpos e assim ver as coisas e animais em corpos humanos.
A agência portanto tem relação direta com a performance teatral onde se cria um novo mundo no qual são criadas experiências genuínas na relação com os outros corpos que habitam a cena e a sustentam, esses outros corpos, sejam eles objetos, luz, som são capazes de mediar e criar narrativas.
Pensem em objetos pelos quais vocês tem amor, em objetos que possuem valor afetivo e que agenciam memórias, o simples fato de tocar, cheirar e vê-lo trazem à tona memórias, eventos que produzem emoções e sensações.
Talvez a infância produza um belo exemplo da agência das coisas, porque a criança desenvolve um amor genuíno por suas bonecas e brinquedos preferidos e agenciados pelos brinquedos elas adentram no mundo da experiência do faz de conta, no qual a boneca é alimentada, ninada e colocada para dormir. As crianças conversam com seus brinquedos e eles respondem e tornam-se objetos de amor.
Se viver é respirar é porque nossa relação com o mundo não é a do estar-lançado ou do estar-dentro-do-mundo, nem mesmo a do domínio de um sujeito sobre um objeto que está diante dele: estar-no-mundo significa fazer a experiência de uma imersão transcendental. A imersão – de que o sopro é a dinâmica originária – se define como uma inerência ou uma imbricação recíproca. Estamos em alguma coisa com a mesma intensidade e a mesma força com que ela está em nós. É a reciprocidade da inerência que faz do sopro uma condição sem saída: impossível se liberar do meio no qual se está imerso, impossível purificar esse mesmo meio de nossa presença. Emanuelle Coccia, A vida sensível das plantas, 2018.

SITUAÇÃO 4
O que os objetos podem trazer à tona? (Brandon retira alguns objetos de uma sacola) Como essa baqueta agencia os movimentos de um músico, quais potencias mobilizam? Que transformações possibilitam realizar no mundo ao redor? De que modo os objetos podem ser instrumentos que potencializam as forças do corpo, fazendo emergir novas possibilidades transformação?
O convite aqui é tentar ver o invisível, encontrar suas frestas seus dizeres sobre o mundo, sobre nós, nossos pensamentos, nossa cultura, nossas ações, permitir-se ser atravessado pelo mundo e coisas do mundo, na intercorporalidade do mundo e dos seres, onde as coisas passam por dentro do ser e o ser passa por dentro das coisas, assumindo a perspectiva das próprias coisas através da agencia proposta pelas coisas.
A agência das coisas e a imaginação da criação




































Richard Rebelo: Olhando para essa cena me lembro de um jardim de infâncias. Eu e meu irmão adorávamos brincar nas tardes de domingo, na praia, mas naquele dia, depois do almoço, quando nos preparamos para sair, nossa mãe nos chamou e nos pediu que limpássemos a piscina, antes de ir brincar, nós fomos até a piscina, que ficava em cima da laje, atrás de casa, nós morávamos numa meia água. telhado na frente e laje atrás, no formato da letra L, então, subimos, o pai havia saído, a mãe foi para o quarto dormir um pouco. Eu tinha 10 anos de idade, estava entediado com aquela atividade, iria demorar demais ter que esvaziar a piscina, antes de limpá-la, com baldes de água no tanque. Olhei para o telhado, lembrei dos dias de chuva, joguei todos os baldes no telhado, que ficava em cima da cozinha, limpamos tudo, descemos pra sair e passando pela cozinha, vimos uma enxurrada, que vinha do teto, o telhado não venceu a quantidade de água concentrada. Resolvemos secar a cozinha, tirei a lâmpada do centro , onde uma cachoeira corria, passamos pano em tudo, ouvi o portão, nosso pai chegando, ele parou na porta da cozinha e disse: – o que está acontecendo aqui? Estamos limpando a cozinha, eu respondi. Ele não reclamou de nada, apenas disse que tínhamos que perguntar a nossa mãe como fazer para limpar uma cozinha. Cheio de amor, meu pai. A mãe acordou e disse, com as mesmas palavras: O que está acontecendo aqui? Um outro tom, outra intenção, outra forma de amor. Meu pai atravessou dizendo: Eles estão limpando a cozinha! e ela: Limpando a cozinha? Saímos rapidamente e sem dizer nenhuma palavra, subi na mesa, rosquei a lâmpada, que havia tirado e saímos.




































Reconhecimento

Zoraia dos Santos: Pelos direitos civis, inclusive o de viver, de participar do amor, do teatro e de não mais ser excluído de qualquer lugar que seja. Em defesa do lema: Vidas Negras Importam.






Zoraia dos Santos: Marvin Gaye mostrou sua arte e cantou em protesto contra o poder da hegemonia branca, ditadora ainda das regras da vida e do amor, decidindo quem vive e quem deve morrer, “What’s going on”, por exemplo, fala sobre isso, sobre o des-amor.
What`s going on
Composição: Al Cleveland / Marvin Gaye / Renaldo Benson
Father, father
We don’t need to escalate
You see, war is not the answer
For only love can conquer hate
You know we’ve got to find a way
To bring some lovin’ here today
Picket lines and picket signs
Don’t punish me with brutality
Talk to me, so you can see
Oh, what’s going on
What’s going on
Ya, what’s going on
Ah, what’s going on
Mother, mother
There’s too many of you crying
Brother, brother, brother
There’s far too many of you dying
You know we’ve got to find a way
To bring some lovin’ here today, ya
Mother, mother, everybody thinks we’re wrong
Oh, but who are they to judge us
Simply because our hair is long
Oh, you know we’ve got to find a way
To bring some understanding here today
Oh
Picket lines and picket signs
Don’t punish me with brutality
Talk to me
So you can see
What’s going on
Ya, what’s going on
Tell me what’s going on
I’ll tell you what’s going on – Uh
Right on baby
Right on baby
Mãe, mãe
Há muitas de vocês chorando
Irmão, irmão, irmão
Há bastante de vocês morrendo
Você sabe que nós temos de encontrar um meio
Para trazer um pouco de amor hoje
Pai, pai
Nós não precisamos agravar
Veja, guerra não é a resposta
Pois apenas o amor pode conquistar o ódio
Você sabe que nós temos de encontrar um meio
Para trazer um pouco de amor aqui hoje
Piquetes e cartazes
Não me castigue com brutalidade
Fale comigo, então você poderá ver
Oh, o que está acontecendo
O que está acontecendo
Sim, o que está acontecendo
Ah, o que está acontecendo
No meio tempo
Certo, querida
Certo
Certo
Mãe, mãe, todos pensam que nós estamos errados
Oh, mas quem são eles para nos julgar
Simplesmente porque temos cabelo comprido
Oh, você sabe que nós precisamos encontrar um meio
Para trazer um pouco de entendimento aqui hoje
Oh
Piquetes e cartazes
Não me castigue com brutalidade
Fale comigo
Então você poderá ver
O que está acontecendo
Sim, o que está acontecendo
Diga o que está acontecendo
Eu direi o que está acontecendo
Certo, querida
Certo, querida

























Ficha Técnica:
Texto: Andressa Medeiros
Fotos: Gilson Camargo
Vídeos: João Debs
Ministrantes: Octavio Camargo e Brandon La Belle
Colaboração artística de Fernando Marés (cenografia), Gilson Camargo (fotografia e documentação), Chiris Gomes (atuação e agenciamento artístico), Jonatas Medeiros (interpretação e tradução em LIBRAS), Giuliano Robert (video), Felipe Custódio (interpretação em libras e documentação), Andressa Medeiros (atuação e memória), Richard Rebelo (atuação e contação de histórias), João Debs (vídeo), e Fernando Dourado (montagem e operação de luz).
Adriana Tabalipa, Beatriz Tomilhero Rosa, Carolina Mascarenhas, Carine Xavier, Camile Vasconcellos, Deise Warken, Eduarda Levandoski, Felipe Ribeiro, Felipe Quadra, Giovanna de Almeida, Henrique Vasconcelos, Hellen Carvalho, Jasmine Quadros, Jaqueline Lau, Jaime Rojas, João Pedro Soares, João Paulo Nascimento, Júlio Santos, Jasmine de Quadros, Katia Horn, Luana Madsen, Luiz Reikdal, Luana Oliveira, Lucas Jara Soares, Matheus Oliveira, Mariana O´Donnell, Maria Céli Camargo, Magdalena Ferrara, Nathalie Rocha, Paula Villa Nova, Rita Lins e Silva, Rosa Maria Dantas, Sérgio Freire Téa Camargo, Magdalena Ferrara, Zoraia Santos, Wynia Martins.
Pelos direitos civis, inclusive o de viver, de participar do amor, do teatro e de não mais ser excluído de qualquer lugar que fosse, em defesa do lema vidas negras importam, Marvin Gaye mostrou sua arte e cantou em protesto contra o poder da hegemonia branca, ditadora ainda das regras da vida e do amor, decidindo quem vive e quem deve morrer, “What’s going on”, por exemplo, fala sobre isso, sobre o des-amor.
Mother, mother
There’s too many of you crying
Brother, brother, brother
There’s far too many of you dying
You know we’ve got to find a way
To bring some lovin’ here today, ya
Father, father
We don’t need to escalate
You see, war is not the answer
For only love can conquer hate
You know we’ve got to find a way
To bring some lovin’ here today
Picket lines and picket signs
Don’t punish me with brutality
Talk to me, so you can see
Oh, what’s going on
What’s going on
Ya, what’s going on
Ah, what’s going on
In the mean time
Right on, baby
Right on
Right on
Mother, mother, everybody thinks we’re wrong
Oh, but who are they to judge us
Simply because our hair is long
Oh, you know we’ve got to find a way
To bring some understanding here today
Oh
Picket lines and picket signs
Don’t punish me with brutality
Talk to me
So you can see
What’s going on
Ya, what’s going on
Tell me what’s going on
I’ll tell you what’s going on – Uh
Right on baby
Right on baby
Mãe, mãe
Há muitas de vocês chorando
Irmão, irmão, irmão
Há bastante de vocês morrendo
Você sabe que nós temos de encontrar um meio
Para trazer um pouco de amor hoje
Pai, pai
Nós não precisamos agravar
Veja, guerra não é a resposta
Pois apenas o amor pode conquistar o ódio
Você sabe que nós temos de encontrar um meio
Para trazer um pouco de amor aqui hoje
Piquetes e cartazes
Não me castigue com brutalidade
Fale comigo, então você poderá ver
Oh, o que está acontecendo
O que está acontecendo
Sim, o que está acontecendo
Ah, o que está acontecendo
No meio tempo
Certo, querida
Certo
Certo
Mãe, mãe, todos pensam que nós estamos errados
Oh, mas quem são eles para nos julgar
Simplesmente porque temos cabelo comprido
Oh, você sabe que nós precisamos encontrar um meio
Para trazer um pouco de entendimento aqui hoje
Oh
Piquetes e cartazes
Não me castigue com brutalidade
Fale comigo
Então você poderá ver
O que está acontecendo
Sim, o que está acontecendo
Diga o que está acontecendo
Eu direi o que está acontecendo
Certo, querida
Certo, querida
What`s Going On
Composição: Al Cleveland / Marvin Gaye / Renaldo Benson
CurtirCurtido por 1 pessoa